quinta-feira, setembro 22, 2016

Roma é mais uma cidade a dizer não aos Jogos Olímpicos...

Roma diz “não” à Olimpíada – mais uma cidade recusa o abusivo custo do evento

Virginia Raggi, nova prefeita romana, contrariou dirigentes esportivos e políticos locais e anunciou a desistência da candidatura.

Os Jogos de 2024 consumiriam pelo menos R$ 20 bilhões da capital da Itália.

Por Rodrigo Capelo

“Especulação, lobbies empresariais, instalações nunca terminadas, estruturas abandonadas, dívidas e sacrifícios para o povo.

Somos contra a candidatura de Roma para os Jogos Olímpicos de 2024 porque não vamos hipotecar o futuro dos romanos.”

O texto, publicado no blog do partido do Movimento 5 Estrelas, é da nova prefeita de Roma, Virginia Raggi.

Agora com a caneta da cidade nas mãos, a italiana anunciou o fim da candidatura pela Olimpíada.

A capital da Itália engrossa uma lista já considerável de cidades que se recusam a sediar os Jogos Olímpicos.

Antes dela, Boston (Estados Unidos) e Hamburgo (Alemanha) desistiram da concorrência pela edição de 2024.

Continuam na disputa Los Angeles (Estados Unidos), Paris (França) e Budapeste (Hungria).

Isso acende – ou deveria acender – o sinal de alerta no Comitê Olímpico Internacional (COI): as pessoas começaram a descobrir o abusivo modelo olímpico.

Os responsáveis pela candidatura olímpica partiram para o ataque à prefeita após o anúncio da desistência.

O perfil oficial da candidatura no Twitter passou a veicular imagens de ruas esburacadas, estações de metrô lotadas, italianos atrás dos classificados nos jornais à procura de empregos.

Acompanhados da hashtag #RomaSemFuturo, os tuítes pregam o pessimismo: nenhum desses problemas será resolvido pelos Jogos Olímpicos.

Supor que a Olimpíada resolva problemas públicos tem o populismo rasteiro do qual brasileiros ouviram à exaustão até 2016.

A candidatura romana prevê um custo de € 5,3 bilhões.

No câmbio atual seriam quase R$ 20 bilhões.

É um erro – e agora as pessoas se dão conta – supor que esse será o valor final.

Um estudo feito na Universidade de Oxford, em 2012, mostra que todos os Jogos Olímpicos desde 1960 sofreram com sobrepreços em relação às estimativas iniciais.

Em média o aumento é de 250% após a inflação.

O Rio de Janeiro, que gastou mais de R$ 40 bilhões, sabe disso por experiência. A estimativa na candidatura era de R$ 28,8 bilhões.

As contrapartidas aventadas por defensores da Olimpíada – políticos, dirigentes esportivos e empreiteiros – são questionáveis.

As experiências olímpicas mais recentes de cidades como Sochi 2014 (Rússia), Londres 2012 (Reino Unido) e Pequim 2008 (China) mostram que o turismo desandou, os empregos gerados pela construção saíram caro e os custos, antes e depois do evento, extrapolaram e foram bancados com dinheiro público.

O raciocínio de que o evento destrava investimentos em áreas como mobilidade urbana não para em pé: se uma cidade tem R$ 40 bilhões para gastar em infraestrutura, por que ela precisaria de um evento como pretexto para usá-los?

A desistência de Roma é uma reação natural a um modelo de negócio à beira do colapso.

O COI, como faz a Fifa com a Copa do Mundo, absorve todos os ganhos financeiros dos Jogos e os usa para alimentar uma cadeia de dirigentes no mundo todo.

Os custos ficam para as populações das cidades sedes.

Conforme mais informações sobre prós e contras olímpicos foram disseminadas, essas pessoas começaram a questionar por que, num momento de economia bamba no mundo todo, precisam gastar tanto dinheiro com os luxos de dirigentes esportivos.

Ou o COI encontra um novo modelo, no qual assuma algum gasto, ou passará por mais constrangimentos toda vez que algum prefeito atender o povo e disser: aqui, não.

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