domingo, agosto 21, 2016

Qual a importância da medalha de ouro para os alemães?

Horas antes da partida a Deutschwelle publicou matéria onde descreveu o sentimento em relação a final olímpica, na Alemanha.

Para alemães, decisão olímpica está longe de ser revanche

Por Deutschwelle

Enquanto Brasil busca dar fim à obsessão pelo ouro inédito e quer vingar o 7 a 1, Alemanha joga com a base da seleção sub-21, inúmeros desfalques e pouco destaque na imprensa.

No penúltimo dia de disputas dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o Brasil terá sua quarta oportunidade de conquistar a tão sonhada medalha de ouro no futebol – depois das pratas em Los Angeles (1984), Seul (1988) e Londres (2012).

Além da busca pelo único título que falta à seleção brasileira masculina, a decisão contra a Alemanha é cercada de expectativas também devido as ainda vívidas memórias do fatídico 7 a 1 da Copa do Mundo de 2014.

Durante a semifinal vencida pela seleção alemã contra a Nigéria, o canto de "Alemanha, pode esperar, sua hora vai chegar" era entoado pela torcida presente na Arena Corinthians.

Um sentimento de revanche, que, no entanto, não encontra correspondência na Alemanha.

O torneio olímpico de futebol não tem grande apelo na Alemanha.

A equipe enviada ao Brasil é praticamente a seleção sub-21 com inúmeros desfalques, já que o treinador Horst Hrubesch teve que obedecer a uma série de pedidos de clubes e da Federação Alemã de Futebol (DFB) na convocação, e a decisão no Maracanã tem recebido pouco destaque na imprensa esportiva alemã.

Atual campeã mundial e uma das potências do futebol, a Alemanha não demonstra nenhum pingo de obsessão pela conquista do torneio olímpico, apesar de, também para ela, tratar-se de um título inédito.

Nenhuma equipe alemã – seja antes da Segunda Guerra, seja depois da Reunificação – conquistou a medalha de ouro: exceção feita à Alemanha Oriental, campeã olímpica nos Jogos de Montreal, em 1976.

O torneio olímpico de futebol dos Jogos do Rio de Janeiro é o primeiro disputado pela Alemanha depois da Reunificada.

A última participação alemã havia sido em 1988, em Seul, quando a equipe que contava com um jovem Jürgen Klinsmann foi derrotada nos pênaltis na semifinal justamente pelo Brasil, que tinha um esquadrão, com Romário, Bebeto, Careca, Taffarel, Jorginho, Neto, entre outros.

Nem a quebra do longo hiato de ausência em Jogos Olímpicos nem o retorno ao país onde conquistara o título da Copa do Mundo de 2014 entusiasmaram os responsáveis pela seleção alemã.

Com a meta declarada de alcançar a semifinal, a DFB enviou ao Brasil uma equipe enfraquecida.

Inúmeras limitações na convocação

Na convocação, Hrubesch enfrentou uma série de limitações.

Como o torneio olímpico não é um evento organizado pela Fifa, os clubes não são obrigados a liberarem seus atletas.

A DFB e os clubes, então, selaram o seguinte compromisso: apenas dois jogadores profissionais por clube; nenhum atleta que esteve na Eurocopa; nenhum jogador que trocou de clube na última janela de transferências; e nenhum do Borussia Mönchengladbach e do Hertha Berlim, que disputam as fases qualificatórias de Liga dos Campeões e Liga Europa, respectivamente.

Hrubesch teve então de abrir mão de peças importantes, como o polivalente Joshua Kimmich (Bayern de Munique), Leroy Sané (recentemente vendido ao Manchester City por 50 milhões de euros), o volante Julian Weigl (Borussia Dortmund), o meia Mahmoud Dahoud (Mönchengladbach), o goleiro titular Timo Wellenreuther (Mallorca, da Espanha) e até do capitão da campanha classificatória do Europeu Sub-21, o atacante Kevin Volland (que trocou o Hoffenheim pelo Bayer Leverkusen).

Do elenco de 18 jogadores, apenas o zagueiro Matthias Ginter (Borussia Dortmund) esteve na Copa do Mundo de 2014, mas não atuou um minuto sequer.
Alguns têm breves experiências na Liga dos Campeões, como o atacante Julian Brandt (Bayer Leverkusen) e o meia Max Meyer, do Schalke 04 e conhecido por ser o único alemão que saiu do futsal para o futebol de campo.

Mas completam o elenco também desconhecidos, como Grischa Prömel, atacante do Karslruhe, da segunda divisão.

Segundo dados do site especializado transfermarkt.de, o valor de mercado do time titular da Alemanha contra a Nigéria é de 107 milhões de euros, praticamente o equivalente de Neymar, avaliado em 100 milhões de euros.

A disparidade é imensa: o único jogador do elenco alemão que já conquistou um título nacional é o volante Sven Bender (Borussia Dortmund), um dos três jogadores permitidos acima de 23 anos.

Sem transmissão na íntegra na TV

As diferenças entre as expectativas, a pressão popular e a importância da decisão para Brasil e Alemanha podem ser medidas na cobertura dos principais jornais e portais esportivos.

Na Alemanha, o primeiro reencontro entre Brasil e Alemanha depois do Mundial de 2014 não é tratado como revanche, nem como chance de redenção para o Brasil.

"Uma vitória não apagará a vergonha de Belo Horizonte. Mas uma derrota seria um desastre para os brasileiros", escreveu o site Spiegel Online.

Os poucos artigos publicados seguem a linha: a derrota de 2014 não pode ser vingada nem apagada num torneio olímpico.

No portal da revista especializada Kicker, principal periódico esportivo do país, o duelo olímpico tem menos destaque do que, por exemplo, o lucro do Borussia Dortmund na temporada passada, os jogos da Copa da Alemanha, do fracasso do hipismo em conseguir uma medalha e até mesmo de uma entrevista com Zico.

Se o ouro vier, certamente será celebrado – mas tanto quanto foram as medalhas na canoagem, na ginástica artística ou no tiro esportivo.

Assim como aconteceu no decorrer do torneio, a final no Maracanã nem mesmo será transmitida na íntegra pela emissora ARD, mas em paralelo com outras competições.

O futebol é o esporte mais popular na Alemanha, mas não é onipresente.

Na televisão alemã, a final do futebol terá de dar espaço para disputas que incluem atletas alemães em outros esportes, como o pentatlo moderno ou a luta olímpica.

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