segunda-feira, agosto 22, 2016

Não é uma questão de gênero e sim de mercado...

Por Flávio Augusto da Silva/Geração de Valor

Li muita polêmica sobre o salário da jogadora Marta nas semanas que antecederam os Jogos Olímpicos.

Como também temos um time de futebol feminino em Orlando, resolvi falar sobre o tema.

A polêmica girava em torno da comparação do salário de Marta com o Neymar.

Uma comparação esdrúxula, já que salários de atletas não são definidos por gênero, mas sim pelo que o mercado de sua modalidade movimenta.

Ainda assim, creio que vale um maior aprofundamento no tema para ampliar a visão de nossos leitores.

Marta ganha 400 mil dólares por ano, segundo acordo de seus patrocinadores com a equipe onde atua na Suécia.

Ela possui o segundo maior salário do mundo do futebol feminino, atrás apenas da estrela americana, Alex Morgan, que joga em nossa equipe em Orlando e tem um salário de 450 mil dólares por ano.

Diante de toda essa polêmica, algumas bandeiras foram levantadas, dentre elas, a que Marta ganhava mal porque é mulher.

No entanto, vale a pena deixar claro que Marta ganha mais do que 99% dos jogadores profissionais do sexo masculino que atuam no Brasil, segundo dados da CBF.

A propósito, 96% dos jogadores que atuam no país do futebol ganham menos de 5 mil reais por mês (fonte: CBF).

Portanto, derrubamos numa tacada dois mitos:

1. Jogador de futebol ganha bem no Brasil? É bem diferente do que as pessoas fantasiam. A média salarial dos jogadores de futebol no Brasil é menor do que a média salarial dos professores.

2. Marta ganha mal porque é mulher? Não. Primeiramente, ela ganha muito bem e ainda ganha mais do que 99% dos atletas de futebol do sexo masculino que atuam no Brasil.

Mas se compararmos com o Neymar?

1. Ela atrai o mesmo público que o Neymar?

2. Ela vende os produtos de seus patrocinadores como o Neymar?

3. Neymar joga para 77 mil torcedores em média por jogo. Marta, apesar de sua genialidade, joga para 1000 torcedores por jogo em seu clube.

É preciso entender que ganhamos proporcionalmente por nossa raridade, pelo que somos capazes de produzir e pelo impacto que geramos no mercado.

Muitas vezes, como no caso dos atletas, a depender do impacto que uma determinada modalidade esportiva tem no país, um atleta pode ser mais ou menos valorizado.

Jogadores de Rúgbi sequer são profissionalizados no Brasil, enquanto na Nova Zelândia são heróis nacionais.

Sendo assim, se um brasileiro é um fenômeno de Rúgbi, não adianta reclamar que ganha mal no Brasil.

É melhor que se mude para a Nova Zelândia, onde o mercado lhe dá maior valor.

Alex Morgan, atleta do Orlando, com quem tenho prazer de trabalhar, além de seu salário, recebe alguns milhões de dólares por ano em contratos de publicidade assinados com grandes empresas.

Elas disputam sua imagem, pois Morgan vende bem, transmite boa credibilidade e, dentro de campo, é uma estrela nacional.

Ganha pelo impacto que gera no mercado, pelo que vende e pelos atributos de sua imagem que as empresas querem incorporarem em suas marcas.

Ela também ganha mais do que a maioria esmagadora de jogadores de futebol do sexo masculino que atuam nos EUA.

Portanto, na hora de falar sobre salários de atletas, precisamos falar sobre mercado e não sobre gênero.

Afinal, essas duas talentosas jogadoras estão no topo da pirâmide.

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